O desenvolvimento sensório motor e a importância das brincadeiras para a infância
A maneira como o corpo e os sentidos da criança se desenvolvem está intimamente relacionada com a forma como ela interage e impacta no meio. O desenvolvimento é um processo contínuo que abarca a maturação de diversas funções humanas e assegura a adaptação do indivíduo ao contexto físico e social.
A sequência do desenvolvimento é fundamental para que as aquisições ocorram de forma coordenada e eficaz. A medida que a criança explora as possibilidades do seu corpo e dos sentidos ela desenvolve habilidades específicas.
As habilidades desenvolvidas se relacionam com a funcionalidade e a ocupação da criança. Cada nova aquisição significa uma novas possibilidades de explorar, brincar e interagir.
As funções motoras básicas emergem ao longo do primeiro ano de vida de acordo com uma sucessão ordenada de etapas. Diversos autores descrevem as etapas do desenvolvimento neuropsicomotor e ressaltam a importância da estimulação do meio para todo o processo.
Os três componentes básicos da função motora humana são:
● A retificação do corpo frente à gravidade
● O movimento propositivo e diferenciado dos distintos segmentos do corpo
● O controle do deslocamento do centro de gravidade dentro da base de sustentação
A coordenação do desenvolvimento desses três componentes permitem que, ao longo da infância, a criança desenvolva habilidades de controle postural, de deslocamento e de motricidade fina.
Através das brincadeiras, a criança entra em contato com o mundo e tem a possibilidade de coordenar estes componentes. O brincar é um importante elemento socializador e de sustentação da ocupação infantil. Com base nele a criança testa e aprimora as atividades motoras e sensoriais.
Os movimentos reflexos são os primeiros a emergirem no desenvolvimento, eles são importantes pois fornecem os pré-requisitos para a atividade funcional normal e são responsáveis por regular o tônus, favorecer o sinergismo muscular e favorecer os padrões de variação de postura e movimento.
O recém nascido:
•Possui movimentos sinérgicos, por exemplo com os braços estendidos mantém as mãos abertas;
•Possui base de movimentos reflexos, como o reflexo de preensão;
•Move a cabeça em prono e supino;
•Gosta de estimulação tátil e proprioceptiva;
•Não mantém atividades na linha média por muito tempo.
Com um mês:
• A criança é capaz de levantar e virar a cabeça;
•Mantêm movimentação sinérgica de mãos e dedos;
•As extremidades do corpo (mãos e pés) movem-se mais para fora do tronco;
•Faz seguimento lateral e de linha média;
•Tem reações primárias de proteção e suporte;
•Inicia seguimento visual;
•Responde à sons externos.
Com dois meses:
•Tem aumento da extensão cervical e torácica;
•Faz rotação lateral de cabeça em supino;
•O corpo da criança rola para o lado como uma unidade;
•Prepara a coordenação olho-mão;
•Tem aumento das reações de retificação labirínticas quando sentado;
•Inicia a percepção dos dois hemisférios corporais.
Com três meses:
•Ocorre o início da coordenação bilateral dos membros superiores;
•Transfere o peso para a extremidade inferior;
•Começa a simetria e a orientação para a linha média;
•Faz seguimento visual de 180º;
•Tem mais amplitude de movimento no quadril;
•Tem aumento do controle muscular de extensores e flexores.
Com quatro meses:
•Melhora na simetria e orientação na linha média;
•Início dos movimentos propositais, controlados, alternados e coordenados;
•Faz exploração ativa das partes do corpo;
•Move braços e pernas em sincronismo;
•Usa a visão para ajustar o alcance;
•Inicia o treino para rolar (sempre de barriga para cima);
•Inicia o apoio em antebraço.
Com cinco meses:
•Rola em decúbito ventral e dorsal;
•Usa a orientação da linha média e coordenação dos dois lados do corpo para produzir movimentos voluntários, assimétricos, dissociados e recíprocos;
•Melhora a coordenação olho-mão e a visão é usada para guiar a fase final da preensão;
•Faz preensão voluntária e inicia as primeiras pré-moldagens de mão;
•Explora objetos contra a gravidade;
•Tem uso funcional das posições.
Com seis meses:
•Tem desenvolvimento dos movimentos voluntários, assimétricos, dissociados e recíprocos de forma coordenada;
•Usa a posição de prono com mobilidade;
•Faz apoio no cotovelo com braço estendido e libera mãos para função;
•Faz preensão palmar radial;
•Passa objetos de uma mão para outra com movimentos dissimétricos;
•Faz apoio com suporte das mãos.
Com sete meses:
•Tem maior capacidade de mover-se no ambiente;
•Usa a postura de 4 apoios (posição de gatinho);
•Tem extensão cervical acentuada;
•Faz apoio em mãos espalmadas;
•Faz maior exploração espacial e sensorial;
•Melhora da noção de profundidade;
•Inicia aprendizado sobre espaço, distância e peso – Aumenta a possibilidade do deslocamento;
É importante destacar que aos sete meses a postura em quatro apoios favorece o engatinhar, fundamental para desenvolver grupos musculares de mãos, braços e ombros, aperfeiçoar a extensão de cabeça e as habilidades visuais, favorecer a integração bilateral e o sequenciamento, fortalecer a coluna e melhorar o equilíbrio.
Com oito meses:
•Aumenta a preocupação em explorar o ambiente;
•Faz maior uso da posição sentada sem apoio, que é fundamental para a exploração;
•Inicia as reações de equilíbrio sentada;
•Prepara a musculatura intrínseca da mão no engatinhar
•Inicia a extensão de punho na função;
•Inicia a adução do polegar na base metacarpofalangeana.
Com nove meses:
•Engatinhar é o meio primário de locomoção, mas começa a experienciar a posição em pé;
•Começa a soltar e jogar objetos com direção voluntariamente;
•Começa a ajustar o peso dos objetos e fazer preparação da mão para as preensões;
•O polegar inicia a oponência;
• Usa o sentar como posição funcional, os braços se liberam do sistema postural.
Neste período a criança usa e abusa das transições posturais, ao passar de deitada para sentada e para os quatro apoios, por exemplo. As posturas intermediárias são fundmaentais para testar os limites e as capacidades, explorar o espaço nas diversas dimensões e explorar os diversos planos corporais.
Com dez meses:
•Aprimora o apoio bípede;
•Intensa exploração tátil e proprioceptiva com a mão;
•Faz a pré-moldagem de mão de acordo com a situação;
•Faz passagens posturais;
•Faz a individualização do indicador;
•Faz preensão trípode na alimentação e ao pegar objetos pequeno.
Com onze meses:
•Tem preferência pela exploração em pé;
•Desloca-se em pé com apoio;
•Tem possibilidade de começar a auxiliar nas AVDs (Atividades de vida diária);
•Faz pinça chave e inicia pinça superior lateral na função.
E aos doze meses:
•Desloca-se em pé sem apoio;
•Melhora o senso corporal para mover-se pelo ambiente;
•Aumenta a informação tátil e proprioceptiva recebida na sola dos pés;
•Faz oposição de polegar e indicador;
•Faz supinação de mão quando manipula objetos;
•Agarra objetos com precisão;
•Inicia coordenação assimétrica de mão.
A postura em pé é um dos maiores eventos da primeira infância e é considerada o produto final da integração com a gravidade, uma vez que requer a integração de cada parte do corpo, incluindo braços, pernas e olhos.
É importante destacar que a ocorrência das etapas e funções descritas podem variar de acordo com o desenvolvimento da criança, mas que se a criança apresenta discrepância importante quando comparada com estas, a avaliação de um especialista pode ajudar a entender o que está acontecendo.
Gabriela de Oliveira Cassimiro
Terapeuta Ocupacional
OBS: O texto é de responsabilidade do autor convidado a escrever sobre o tema